Os governos ocidentais reprimem a solidariedade palestiniana? Organizemos a luta!

Na sequência do ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro, o Estado israelita desencadeou uma represália sangrenta. No Ocidente, políticos capitalistas e a imprensa prostituta declaram apoio inabalável ao “direito de Israel de se defender” e classificam aqueles que demonstram solidariedade com a Palestina como “simpatizantes do terrorismo”. Isto está a ser combinado com a repressão jurídica da solidariedade para com o povo palestiniano, que tem de ser combatida corajosamente. Não seremos silenciados!

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Na Grã-Bretanha, o governo conservador e a oposição do Partido Trabalhista sob Sir Keir Starmer estão unidos no apoio a Israel até ao fim. A arqui-reacionária ministra do Interior dos tories, Suella Braverman, enviou uma carta aos chefes de polícia em Inglaterra e no País de Gales, instando-os a bloquear quaisquer tentativas de usar bandeiras, canções ou suásticas palestinianas [!] “para assediar ou intimidar membros da comunidade judaica.”

Traçando descaradamente um paralelo entre agitar bandeiras palestinianas e exibir insígnias nazis, Braverman procura difamar qualquer pessoa que esteja ao lado da Palestina como um simpatizante terrorista antissemita, dando pretextos para reprimir a solidariedade.

Os conservadores são apoiados por uma campanha de imprensa repleta de detalhes lúgubres sobre a violência brutal do Hamas, real e exagerada, como a história não verificada de “40 bebés decapitados” no kibutz de Kfar Aza.

Entretanto, os crimes de guerra israelitas ou são justificados como legítima defesa, ou ignorados, incluindo as recentes notícias sobre o lançamento de fósforo branco em Gaza. Nos relatos de vítimas, os israelitas são “mortos”, enquanto os palestinianos simplesmente “morrem”.

Nas raras ocasiões em que vozes pró-palestinas são permitidas nos média, elas são forçadas a ritualisticamente “condenar o Hamas”, incluindo o embaixador palestiniano Husam Zomlot na BBC Newsnight, que momentos antes havia revelado que seis de seus parentes tinham sido mortos em ataques aéreos israelitas. Mais tarde, Zomlot foi deliberadamente citado erroneamente como tendo dito “Israel tinha-se posto a jeito”, com a apresentadora em questão, Kay Burley, repetidamente recusando-se a se retratar da citação.

A mensagem é simples: se apoiarmos a Palestina, apoiamos o terrorismo do Hamas e não merecemos o direito de expressar as nossas opiniões. A Polícia Metropolitana de Londres já anunciou que as patrulhas policiais em “áreas sensíveis” de Londres foram aumentadas, alertando que qualquer pessoa que violasse a lei seria presa.

Liberdades académicas ameaçadas

Estas ameaças legais são combinadas com ataques à liberdade de expressão nas escolas e universidades. Várias sociedades estudantis têm sido criticadas nos meios de comunicação social por alegadamente “glorificarem” o Hamas. Além disso, um professor falou com marxist.com sobre as novas diretrizes enviadas à sua escola secundária pelo programa antiterrorista “Prevent” do governo britânico.

Os membros da equipa foram informados de que participar de protestos de solidariedade ou apoiar vocalmente os palestinianos neste conflito poderia violar a política da escola de ‘defender os valores britânicos’ e pode precisar envolver o Oficial da Prevenção, o que por si só é uma ameaça velada“, disseram, “Os professores foram encorajados a silenciar as conversas das crianças sobre o conflito e remover adesivos de ‘Palestina Livre’ ou outras demonstrações de solidariedade.

Conservadores reacionários como o Daily Mail têm feito manchetes acusando académicos universitários (geralmente muçulmanos e de origem do Médio Oriente) de “legitimarem os ataques do Hamas” e de exigirem sanções contra eles.

Este assédio mediático e a intromissão orwelliana nas escolas e universidades está a ser conduzido pelo mesmo governo e imprensa conservadores que outrora fizeram grande espalhafato sobre a consagração da “liberdade de expressão” nas universidades.

Ao mesmo tempo que mobiliza agências de combate ao terrorismo contra estudantes e professores que exercem os seus direitos democráticos, a classe dominante britânica oferece cobertura política e assistência material ao terror de Estado israelita contra os palestinianos. Há agora planos para enviar navios da Marinha Real para o Mediterrâneo oriental para “reforçar a segurança”.

Do outro lado do Atlântico, 33 organizações estudantis da Universidade de Harvard provocaram gritos de indignação ao emitirem um comunicado culpando o “regime do apartheid” de Israel pelos ataques de sábado. “[Estes] eventos não ocorreram no vácuo”, dizia a carta. “Nas últimas duas décadas, milhões de palestinianos em Gaza foram forçados a viver numa prisão ao ar livre.”

Além de uma onda de condenações na imprensa, exigindo repercussões para os estudantes por parte das autoridades universitárias, uma cabala de CEOs, liderada pelo bilionário gestor de fundos de hedge Bill Ackman, insistiu que os “nomes dos signatários devem ser tornados públicos para que suas opiniões sejam publicamente conhecidas”.

Enquanto isso, um caminhão com fotos de estudantes e as palavras “os principais antissemitas de Harvard” foi conduzido pela universidade num ato de intimidação aberta.

O establishment político juntou a sua voz à condenação dos grupos de estudantes de Harvard.

O republicano e graduado em Harvard Ted Cruz escreveu no X: “O que diabos há de errado com Harvard?” Enquanto isso, Seth Moulton, congressista democrata e ex-aluno de Harvard, disse em uma entrevista à WBZ-TV que estava “envergonhado” com a declaração dos estudantes: “Isso é terrorismo puro, e o terrorismo nunca é justificado“.

É preciso topete, vindo de um representante do mesmo governo que durante décadas financiou o terror israelita contra a Palestina e usa a sua influência política para proteger o Estado israelita da responsabilização. Os EUA enviaram agora um porta-aviões e um grupo de ataque para o Mediterrâneo oriental, antecipando a ameaça de uma guerra mais ampla.

Uma Europa “democrática”?

Nos últimos anos, muito se tem falado dos valores “democráticos” da Europa, por oposição aos regimes autoritários, censórios e violentos da Rússia, da China e assim por diante. No entanto, sobre a questão da Palestina, a ficção da democracia europeia fica exposta.

Por exemplo, o chanceler alemão Olaf Scholz advertiu que “qualquer pessoa que glorifique os crimes do grupo militante palestiniano Hamas” enfrentará repercussões legais, citando “tolerância zero” com o antissemitismo. “Estes meios incluem expressamente proibições de associações e atividades“, acrescentou Scholz.

Este argumento sobre a “glorificação do Hamas” é puro sofisma para justificar a repressão legal total de todas as manifestações pró-Palestina. De fato, a polícia de Berlim já proibiu manifestações planeadas, citando o risco de “declarações antissemitas e glorificação da violência”.

Já há relatos de repressão policial contra pessoas que carregavam símbolos pró-palestinos, incluindo a bandeira nacional, e usavam o lenço keffiyeh.

Além disso, a senadora da Educação de Berlim, Katharina Günther-Wünsch (CDU), proibiu o uso de lenços palestinianos e outros símbolos associados à Palestina nas escolas. Adesivos com inscrições como “Palestina livre”, mapas de Israel com as cores da Palestina, até mesmo proferindo as palavras “Palestina livre”, são todos proibidos, pois “tais ações e símbolos colocam em risco a paz escolar na situação atual“. Este ataque draconiano às liberdades básicas dos estudantes irá, sem dúvida, preparar uma reação negativa.

Nos Países Baixos, o primeiro-ministro Mark Rutte anunciou que os autarcas iriam intervir nas manifestações pró-Hamas, e uma marcha planeada em Amesterdão teve de mudar de local na sequência de pressões políticas e ameaças legais.

Enquanto isso, o governo Macron na França decretou uma proibição geral de manifestações pró-palestinas, com o ministro interino, Gérald Darmanin, dizendo que qualquer pessoa que participe deve ser presa, pois “é suscetível de perturbar a ordem pública“.

Desafiando a proibição, milhares de pessoas reuniram-se ontem em Paris, Lille, Bordéus e noutros locais. Estas manifestações foram imediatamente dispersadas pela polícia com recurso a canhões de água e gás lacrimogéneo, tendo dezenas sido detidas em todo o país. Tal é a farsa da “democracia” francesa!

Macron deixou claro o motivo deste ataque especialmente ultrajante às liberdades democráticas num discurso em vídeo à nação, dizendo que “não vamos adicionar divisões nacionais às divisões internacionais“. Com a sua autoridade e popularidade na sarjeta, depois de já ter enfrentado duas grandes vagas de luta este ano (contra um odiado e antidemocrático aumento das pensões e o assassínio de um adolescente franco-argelino pela polícia), Macron teme outra conflagração.

Mas a sua tentativa de empunhar o martelo da repressão estatal para impor a “unidade” pode rapidamente sair pela culatra, dada a fragilidade da situação política em França.

Os tribunais franceses estão também a ser utilizados para reprimir a dissidência. O Novo Partido Anticapitalista (NPA), um pequeno partido de esquerda liderado por Phillip Poutou, enfrenta uma investigação legal por supostamente glorificar o “terror” após uma declaração pró-palestina.

Embora não subscrevamos o ponto e a vírgula da posição do NPA, eles colocam corretamente a principal culpa pelos acontecimentos sangrentos dos últimos dias diretamente aos pés do Estado reacionário israelita e apelam a uma nova intifada para libertar a Palestina.

Numa clara referência ao NPA, Darmanin advertiu que se reservava o direito de usar a lei “para iniciar processos de dissolução” contra “grupos, associações e, por vezes, partidos políticos [emitindo] declarações absolutamente desprezíveis apelando ao ódio, à intifada e à glorificação do terrorismo“.

Isto é absolutamente escandaloso. Uma intifada é nada menos do que uma revolta em massa de um povo oprimido contra um ocupante pelo direito democrático elementar de um Estado. Não tem nada a ver com o ataque do Hamas em 7 de outubro. Este direito (consagrado no direito internacional) não é concedido aos palestinianos? Para a burguesia francesa, que outrora lançou a sua própria revolta contra a despótica dinastia Bourbon, este direito está inteiramente condicionado ao alinhamento com os interesses imperialistas ocidentais.

Para sua vergonha, a esquerda francesa manteve-se em silêncio perante esta ameaça aberta de dissolver o NPA. Tanto o Partido Socialista (PS) como o Partido Comunista (PCF) emitiram declarações de apoio a Israel, em total cumplicidade com a classe dominante francesa. Por seu lado, La France Insoumise (LFI), o principal partido da oposição à frente da coligação de esquerda Nupes, liderada por Jean-Luc Mélenchon, emitiu um comunicado apelando a um cessar-fogo.

A ofensiva armada das forças palestinianas lideradas pelo Hamas surge num contexto de intensificação da política de ocupação israelita em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental“, lê-se no documento. “Lamentamos as mortes israelitas e palestinianas. Nossos pensamentos estão com todas as vítimas.” Observou ainda: “a violência desencadeada contra Israel e na Faixa de Gaza só produz [mais violência]“.

Esta declaração bastante branda e pacifista produziu uma onda de indignação. A primeira-ministra Elisabeth Borne disse em uma entrevista televisionada: “A posição do LFI é bem conhecida, e muitas vezes marcada por muita ambiguidade, pelo antissionismo e… é também uma forma de mascarar uma forma de antissemitismo.

Equiparar o antissionismo ao antissemitismo é uma estratégia antiga dos reacionários para atacar a esquerda pró-Palestiniana. Por sua vez, o Partido Socialista também anunciou uma “rutura temporária” da aliança Nupes, ameaçando derrubar a coligação se Mélenchon não reverter a declaração, na prática fazendo o trabalho de Macron para ele.

A Tendência Marxista Internacional sob ataque

Os nossos próprios camaradas da Tendência Marxista Internacional (TMI) também foram atacados em todo o mundo por mostrarem solidariedade para com a Palestina, por condenarem as ações assassinas dos ocupantes israelitas e por apelarem a uma solução revolucionária para a opressão palestiniana.

Várias associações de estudantes na Grã-Bretanha tentaram censurar os nossos materiais e encerrar as nossas reuniões públicas nas universidades. A Sociedade Marxista da University College London (UCL) foi condenada a remover cartazes que anunciavam uma reunião pública sobre Israel-Palestina, e suspensa após recusa. Isto baseou-se na escandalosa acusação de que o material político dos camaradas, particularmente o seu slogan “intifada até à vitória”, poderia ser interpretado como “incitação à violência”!

E na Universidade de Cambridge, camaradas da Sociedade Marxista que tentavam realizar uma reunião pública em solidariedade com a Palestina foram trancados fora do campus!

Entretanto, um camarada na Suécia foi agredido por quatro polícias quando se deslocava a sua casa em Hagfors depois de uma reunião em Estocolmo. O comboio em que viajava ficou retido durante uma hora sem explicações, enquanto o camarada era interrogado, revistado e acusado de “visitar páginas web sobre o Hamas“.

Aparentemente, seu “crime” foi acessar artigos do marxist.com expressando solidariedade à Palestina e espalhando discursos de manifestações nas redes sociais. Isso foi o suficiente para alguém no comboio levantar uma denúncia sobre uma “suspeita de ameaça de bomba“! Vemos aqui o efeito que a histeria absoluta desencadeou na imprensa sobre qualquer pessoa que apoie a Palestina ser um simpatizante do terrorismo.

O mais escandaloso de tudo é que os maiores meios de comunicação social suíços lançaram uma verdadeira caça às bruxas contra os nossos camaradas do Der Funke/L’etincelle, acusando-os de organizar uma manifestação pró-Hamas em Zurique, apelando à violência e espalhando o antissemitismo. Estas alegações bizarras e falsas levaram as universidades de Zurique, Berna e Friburgo a retirar aos nossos grupos de estudantes os direitos de reserva de salas no campus.

Um comunicado da Universidade de Zurique (UZH) diz: “O UZH não tolera apelos à violência. O apelo à “Intifada até à vitória” difundido pelo “Der Funke” e pelo “IMT” não é compatível com a posição do UZH. O UZH apoia discussões conduzidas democraticamente.

Este apelo à “democracia” é completamente ridículo quando as autoridades universitárias são abertamente cúmplices de ataques aos direitos democráticos básicos de expressão e reunião por parte do Estado suíço e dos seus porta-vozes dos meios de comunicação social.

Os Comunistas desafiam

Vimos nos últimos anos, com a destruição sistemática do movimento por detrás de Jeremy Corbyn na Grã-Bretanha, por exemplo, como os capitalistas, a imprensa e a elite política difamam e caluniam descaradamente os seus opositores. Uma das principais fontes de munição tem sido a questão do apoio à Palestina, o antissionismo e as alegações de “antissemitismo” que inevitavelmente associam.

O principal erro de reformistas como Corbyn foi ceder a esta desprezível campanha de mentiras, em vez de a identificar claramente como um ataque politicamente motivado, e reagir.

Os comunistas da TMI tratam o lixo mentiroso que nos é atirado pelos nossos inimigos de classe com o desprezo que merece. Declaramos orgulhosa e claramente a nossa total oposição ao sionismo. Dizemos que o atentado de 7 de outubro foi provocado por décadas de ocupação brutal e pela repressão sangrenta de todas as tentativas do povo palestiniano de protestar pacificamente contra o seu inferno quotidiano. Manifestamos a nossa solidariedade incondicional para com os palestinianos que lutam por um Estado a chamar de seu, e por uma existência digna.

E, acima de tudo, apontamos claramente o dedo aos dois pesos e duas medidas dos nossos próprios líderes imperialistas, que apoiaram os crimes hediondos do Estado israelita, continuam a fazê-lo e estão atualmente a apostar na punição coletiva do povo de Gaza, que é ilegal por todos os padrões das próprias leis internacionais (reconhecidamente inúteis) dos imperialistas.

Agora, o Governo israelita está a utilizar a linguagem do genocídio e da limpeza étnica na sua resposta aos ataques do Hamas, que as nossas classes dominantes justificam como “autodefesa”. O exército israelita alertou 1,1 milhões de pessoas que vivem no norte de Gaza para evacuarem dentro de 24 horas, uma impossibilidade absoluta que um porta-voz da OMS classificou como “uma sentença de morte“.

Nossos camaradas que foram atacados nos últimos dias responderam às tentativas de reprimir suas atividades com um contra-ataque político ousado, emitindo declarações desafiadoras criticando a hipocrisia de suas respetivas autoridades universitárias, da imprensa capitalista e dos governos capitalistas.

Os comunistas em Londres realizaram sua reunião planeada da UCL fora do campus, afirmando a sua solidariedade com a Palestina e apoio a uma intifada revolucionária para libertar o povo palestiniano, como parte de uma onda revolucionária em todo o Médio Oriente. Enquanto isso, o comício “proibido” em Zurique prosseguiu independentemente disso, com grandes multidões participando.

Esta deve ser a atitude de todos os grupos de esquerda quando confrontados com quaisquer medidas repressivas contra a expressão da sua solidariedade para com um povo oprimido e ocupado. Temos de estar lado a lado em solidariedade com os palestinianos e em defesa das liberdades democráticas de expressão e de reunião, duramente conquistadas.

A classe dominante tem medo. Os trabalhadores foram fustigados pela crise do custo de vida e já começaram a organizar-se e a reagir, com um grande aumento da atividade grevista. As classes dominantes em todo o mundo ocidental antecipam futuros distúrbios, pois novos ataques são necessários em suas tentativas de estabilizar o sistema capitalista em crise. Além disso, eles sabem que, à medida que a matança de Israel se intensificar, a indignação resultante pode desencadear uma onda de protestos em casa.

Ao mesmo tempo que encerram as atividades pró-Palestinianas, estão a dar às suas forças estatais cada vez mais poder para silenciar e encerrar todas as formas de protesto. Ao minar os direitos democráticos agora, eles estão preparando o terreno para futuras batalhas com a classe trabalhadora. Os trabalhadores e a juventude devem mobilizar-se e enfrentar estes ataques com todas as suas forças.

Um ataque a um é um ataque a todos. Dizemos:

Não aos ataques antidemocráticos ao direito de protestar!

Intifada até à vitória!

Palestina livre!

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