Protestos estudantis contra exames presenciais tomam Paquistão

Uma onda de protestos estudantis contra os exames presenciais varreu o Paquistão desde a semana passada. As mídias sociais nas últimas semanas foram tomadas pelas demandas dos estudantes. A hashtag #StudentsRejectOnCampusExams (Estudantes rejeitam o exame presencial) foi uma das principais tendências no Twitter nas últimas duas semanas.


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A série de protestos começou com um apelo espontâneo de um grupo de estudantess nas redes sociais. Um grupo decidiu organizar um protesto presencial em Islamabad em 21 de janeiro. Foi realizada uma manifestação na capital do Paquistão, na qual participaram centenas de estudantes de várias universidades de Islamabad. Desde então, esses protestos se espalharam por todas as principais cidades do Paquistão: Islamabad, Lahore, Karachi, Peshawar, Multan, DG Khan, Faisalabad e muitos mais.

Os protestos estudantis pacíficos foram enfrentados com a brutal repressão do Estado brutal e com a repressão da administração das universidades em alguns lugares. Apesar de todas as adversidades e do uso da força contra eles, os estudantes conseguiram forçar a administração de algumas universidades a aceitar sua demanda, mas muitas ainda resistem e os protestos continuam.

A chama se acendeu quando várias universidades decidiram realizar exames presenciais após a reabertura das instituições em 1º de fevereiro. Isso causou grande inquietação entre os estudantes, que recorreram às redes sociais para expor suas preocupações. Manifestantes afirmaram que as universidades do Paquistão ministraram aulas online durante todo o último semestre. Elas receberam suas taxas integrais para esse fim, mas não forneceram facilidades como acesso à internet, eletricidade, computadores/laptops etc. A qualidade do ensino permaneceu extremamente ruim durante as aulas online, pois as instituições de ensino não se preocuparam em tomar quaisquer medidas para transmitir as habilidades necessárias ao seu corpo docente e conceber métodos modernos para o efeito. Nenhum dinheiro era gasto na compra de softwares de ensino ou qualquer outro meio de ministrar aulas, e os professores contavam com as limitadas opções gratuitas disponíveis, principalmente usando o WhatsApp para assistir às aulas por voz ou até mesmo por mensagens de texto. Por outro lado, as universidades aumentaram suas mensalidades para níveis sem precedentes, que já eram muito altos. Embora as despesas da universidade tenham sido reduzidas porque os estudantes não estavam usando as instalações dos campi, e o pagamento dos professores também foi reduzido, as taxas dispararam durante a pandemia sem regulamentação do governo.

Um grande número de estudantes que vinham de áreas longínquas não podia assistir nem mesmo essas aulas online de baixa qualidade devido à indisponibilidade de internet e eletricidade em grandes partes do Paquistão.

Os estudantes afirmam que, por terem sido ensinados online, não faz sentido realizar exames presenciais. Eles temem que as universidades reprovem deliberadamente a maioria nesses exames, o que os forçará a pagar o semestre inteiro novamente e colocará um enorme fardo sobre os ombros de seus pais pobres, que foram gravemente afetados pela pandemia. Algumas dos questionamentos dos estudantes foram: “quando as aulas estavam em zoom, por que os exames na sala?” e “quando as aulas eram no Meet, por que os exames na folha?“. Os estudantes também recorreram às redes sociais para descarregar a sua raiva.

Islamabad

Centenas de estudantes da Universidade Nacional de Línguas Modernas (NUML, na sigla em inglês) e da Universidade de Agricultura Árida fizeram uma demonstração em 21 de janeiro. Estudantes de outras universidades também se juntaram a eles posteriormente. Já se passou mais de uma semana, mas os protestos em Islamabad são realizados quase todos os dias em grande número.

Os estudantes fizeram uma manifestação de um dia inteiro em uma das principais rodovia e se recusaram a encerrar o protesto até que suas demandas fossem atendidas.

Depois disso, a administração distrital lançou a força policial contra os manifestantes pacíficos. A polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo e os estudantes foram violentamente agredidos com cassetetes, incluindo mulheres.

Muitos estudantes foram presos e encaminhados para diferentes delegacias da capital federal, de onde foram posteriormente libertados.

Mesmo esta repressão brutal do Estado não conseguiu desmoralizar os estudantes e, como resultado, eles formaram um Comitê de Direitos dos Estudantes, composto por membros de várias universidades por iniciativa dos camaradas da Aliança Progressiva da Juventude (PYA, na sigla em ingês), que desempenharam um papel fundamental em levar essa luta adiante. Este comitê fez uma convocação para protestar em frente à Comissão de Educação Superior (HEC, na sigla em inglês): um órgão regulador do ensino superior no Paquistão. Mais de 100 representantes estudantis se reuniram em frente à sede do HEC, situada no coração da capital federal, e fizeram um protesto de um dia inteiro. Eles foram informados de que suas demandas seriam consideradas na próxima reunião do órgão.

Os estudantes vêm realizando protestos fora da sede do HEC de forma consistente. Eles juraram não sair até que uma notificação confirmando o cancelamento dos exames do campus fosse emitida.

Lahore

Dias depois do protesto inicial, centenas de estudantes de universidades públicas e privadas em Lahore, a capital provincial da maior província de Punjab, também se reuniram em frente ao Lahore Press Club (LPC) para pressionar por suas demandas e posteriormente marcharam em direção à Casa do Governador, no dia 21 Janeiro. O governador de Punjab, Chaudhry Muhammad Sarwar, um ex-parlamentar trabalhista no Parlamento britânico, é oficialmente o chanceler de todas as universidades de Punjab licenciadas pela província.

Foi também um levante espontâneo: a chamada começou nas redes sociais, inspirada na manifestação em Islamabad.

A polícia recorreu aos bastões para agredir esses manifestantes. Eles conseguiram dispersá-los com o uso da força. No entanto, o movimento estudantil não diminuiu.

Os estudantes voltaram em número ainda maior e estavam ainda mais determinados no dia seguinte. Foi realizada uma manifestação do lado de fora da Universidade de Gestão e Tecnologia (UMT, na sigla em inglês). Os estudantes não desistiram de seu protesto de um dia inteiro, e a polícia usou cargas de cassetete e de gás lacrimogêneo para dispersá-los. No entanto, eles entraram no campus da UMT e cercaram o escritório do vice-reitor, superando a segurança. Eles saíram depois que foi emitida uma notificação oficial rejeitando os exames presenciais.

Foi uma grande vitória que levantou o ânimo e os estudantes juraram levar essa luta para outras universidades da cidade. Em uma excelente demonstração de solidariedade entre os campi, no dia seguinte, 26 de janeiro, mais de mil estudantes se reuniram em frente à University of Central Punjab (UCP), outra universidade privada de propriedade de um magnata da mídia, magnata da educação do setor privado e ex-prefeito de Lahore, Mian Amir. Os guardas de segurança da universidade lançaram força brutal contra estudantes pacíficos, mas não tiveram sucesso em dispersá-los. Os manifestantes anunciaram que não se moveriam até que suas demandas fossem aceitas, aconteça o que acontecer.

Mais tarde, com a permanência dos estudantes o dia inteiro e a demonstração de sua vontade de pernoitar, um pesado contingente de policiais armados com equipamentos de choque, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo foi acionado. A universidade e a administração distrital recorreram a táticas sujas para caluniar os manifestantes pacíficos. Alguns provocadores disfarçados de alunos foram enviados para a manifestação. Eles começaram a atirar pedras na segurança e na polícia da universidade e, mais tarde, incendiaram o portão da universidade. Isso deu à polícia uma desculpa para recorrer ao uso brutal da força para esmagá-los.

A polícia atuando como milícia particular de Mian Amir Mehmood, o proprietário da universidade, disparou bombas de gás lacrimogêneo e atacou os estudantes com cassetetes. Muitos ficaram feridos e alguns sofreram fraturas físicas. Um deles, Shah Jahan, sofreu ferimentos graves. Ele foi internado em uma UTI em estado crítico e está lutando pela vida. A polícia prendeu pelo menos 37 estudantes e registrou processos contra 500. No dia seguinte, eles foram apresentados a um tribunal em uma van da prisão e mantidos nesta van em forma de gaiola durante todo o dia. À noite, minutos antes do término do horário do tribunal, o processo foi realizado na ausência dos estudantes. Eles foram entregues à polícia em prisão preventiva por três dias.

As medidas vingativas e supressivas contra os manifestantes da UCP ainda não acabaram. A administração da universidade enviou cartas de suspensão a dezenas de estudantes e avisos de ameaças a outras centenas deles. Todos os suspensos da universidade não terão suas mensalidades de volta e a preciosa renda de suas famílias, investida no ensino superior de seus filhos, ficará perdida nas contas desses donos de universidades.

A PYA desempenhou um papel crítico em ambas as demonstrações. Nossos camaradas fizeram discursos, levantaram palavras de ordem e mantiveram discussões.

Os estudantes da UCP anunciaram outro protesto na quinta-feira, 28 de janeiro, contra esta repressão. Estudantes de outras universidades em Lahore também anunciaram planos para organizar protestos sobre a questão.

Multan

Estudantes do Emerson College e de faculdades afiliadas à Universidade BZU fizeram uma demonstração em Multan, outra grande cidade a 300 km de Lahore.

Um grande comício foi realizado. O protesto foi organizado e liderado principalmente por camaradas da PYA na cidade. Os manifestantes tiveram êxito, pois suas demandas foram atendidas um dia depois.

DG Khan

Mais de 4 mil estudantes da Universidade Ghazi, da Universidade Mir Chakar e de faculdades afiliadas fizeram um protesto em DG Khan, outra grande cidade no sul de Punjab.

O protesto durou mais de 48 horas. No primeiro dia, foi realizada uma manifestação na principal rodovia interprovincial, que foi bloqueada pelos estudantes. Como os manifestantes não foram ouvidos, no dia seguinte, eles marcharam pela cidade e fizeram uma demonstração em frente à casa do VC. Uma notificação para exames online foi emitida: um triunfo do protesto estudantil.

Os membros da PYA desempenharam um papel de liderança. Foi o protesto mais organizado da recente onda do movimento estudantil. Foram estabelecidos três comitês: um comitê organizador, um comitê de segurança para mulheres participantes e um comitê de negociações. Os comitês foram feitos com base nas recomendações da PYA e nossos membros fizeram parte deles.

Após a vitória, estudantes também expressaram solidariedade contra a repressão estatal aos manifestantes da UCP. Eles não apenas divulgaram mensagens de vídeo, mas anunciaram planos de se juntar fisicamente aos protestos em Lahore, se necessário.

Peshawar

Um protesto semelhante foi realizado na Universidade de Peshawar, a maior universidade do setor público em Peshawar, capital da província de KPK, em frente ao escritório do VC por iniciativa de estudantes comuns.

Os camaradas da PYA não apenas intervieram no protesto, também propuseram a formação de um comitê de ação para levar adiante este protesto. A administração da universidade não atendeu às demandas estudantis e o protesto seguiu até a frente do Peshawar Press Club.

A Universidade Peshawar tem uma rica história de política estudantil e várias organizações estudantis de todas as tendências estão presentes no campus. No entanto, todos elas degeneraram no período anterior. Elas agora não são nada mais do que um bando de almas corruptas envolvidas na extorsão de lojas próximas e da cantina da universidade; no aluguel de quartos de albergue; lutando por participação em diferentes contratos e saques semelhantes, tudo isso em conluio com a administração da universidade e os políticos locais.

Os estudantes comuns rejeitaram essas supostas organizações estudantis e muitas vezes levantaram suas demandas sobre questões candentes por conta própria. O mesmo aconteceu com a questão do exame presencial. Essas organizações, da suposta esquerda à direita, realizaram coletivamente uma manifestação separada contra os estudantes comuns que protestavam em frente ao clube de imprensa. Agindo abertamente contra os estudantes, vemos claramente como essas organizações tradicionais são degeneradas.

Os protestos contínuos dos estudantes comuns tiveram êxito quando a administração da universidade anunciou a realização de exames online.

Outras cidades

Protestos contra os exames presenciais foram realizados em outras partes do país, como Karachi, capital da província de Sindh; Faisalabad, uma cidade importante em Punjab, a 100 km de Lahore; Sahiwal, outra cidade a 150 km de Lahore e outras.

A PYA desempenhou um papel fundamental nesses protestos. Nossos camaradas em cada protesto e manifestação intervieram com espírito revolucionário. Eles não apenas afirmaram a necessidade de organizar os estudantes, mas também os municiaram com palavras de ordem corretas. Nossos militantes desempenharam um papel importante em delinear uma Carta de Demandas dos Estudantes, alinhada ao manifesto da PYA, mas também tiveram êxito no estabelecimento de comitês estudantis. Os militantes da PYA tiveram posições de liderança em todos os comitês que representam centenas de estudantes. Na verdade, a PYA iniciou e organizou esse processo em algumas cidades.

O papel patético e indiferente do governo do Paquistão também pode ser visto nesta situação. Eles não deram ouvidos às demandas manfiestantes. Quando a pressão aumentou, o ministro da Educação Federal – em vez de emitir instruções claras para aceitar as demandas – optou por passar a bola para o campo das universidades, para que decidam por si mesmas, de acordo com sua capacidade.

Movimento de estudantes à beira da explosão

A reação dos estudantes recentes foi uma explosão espontânea contra a repressão e exploração de décadas. A raiva se acumulou contra as medidas que privam os jovens do acesseo à educação, incluindo privatizações, aumento de taxas, falta de moradia estudantil, falta de meios de transporte, desemprego, assédio sexual nos campi e outros problemas.

Os sindicatos estudantis foram proibidos no Paquistão desde 1984. Os estudantes não têm plataforma para expressar suas preocupações. Todas as decisões nas universidades são tomadas pela administração e impostas. Taxas exorbitantes estão sendo cobradas em nome da educação, enquanto a qualidade da educação e as perspectivas de emprego caíram drasticamente ao longo dos anos, atingindo o nível mais baixo de sua história. Privar os estudantes de seus direitos democráticos fundamentais também é um grande motivo de frustração entre eles, pois as universidades se assemelham a prisões, onde os estudantes são continuamente policiados por seguranças e outras medidas administrativas. Quaisquer reuniões menores são estritamente desencorajadas e novos códigos morais são impostos regularmente para coagir e criminalizar atividades sociais. Qualquer voz dissidente é brutalmente esmagada pela administração da universidade ou por capangas disfarçados de organizações fundamentalistas, especialmente recrutadas para esse fim.

Mas esse novo movimento mostrou o que está por vir no próximo período: a juventude está começando a se mover. Esses protestos foram iniciativa dos próprios estudantes, fora das organizações estudantis tradicionais ligadas a partidos políticos degenerados. Esses protestos provaram que tais organizações não são apenas irrelevantes agora, mas também anti-estudantis. Em muitas manifestações, eles foram expostos como uma extensão da administração e do Estado, e não como seus colegas.

A onda recente é apenas um reflexo da raiva que vem fermentando há décadas. Este é apenas o começo do começo.

Superficialmente, a oposição dos estudantes contra a decisão de realizar os exames presenciais pode parecer uma questão mesquinha. No entanto, ela tem um histórico em que os estudantes no Paquistão foram deixados de fora de qualquer tomada de decisão sobre sua educação durante o surto de pandemia da Covid-19. A decisão de fechar as universidades, reabri-las e fechá-las novamente; e a introdução de aulas online sem facilidades e habilidades de ensino, foi tudo imposto a eles. Esta onda é uma expressão de seu desafio contra o atual sistema de educação no Paquistão, que apenas suga seu sangue.

A educação nunca foi uma prioridade no Paquistão. Poucos 3 a 4% do orçamento do Estado foram alocados para ela continuadamente nas últimas décadas. Mais de 60% da população é analfabeta e o Paquistão tem o maior número de crianças fora da escola do mundo. O analfabetismo entre as mulheres afeta mais de 70% de sua população. Aqueles que têm a sorte de entrar em uma escola geralmente saem durante o ensino fundamental e apenas uma pequena porcentagem consegue obter educação universitária. Mas com a recente onda de privatizações de universidades do setor público e enormes cortes (em mais da metade) no orçamento da educação para pagar os empréstimos e juros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e poupar dinheiro para despesas de defesa, a situação está piorando muito. As taxas universitárias dispararam, deixando uma enorme camada da classe média sem acesso ao ensino superior. Com os atuais ataques do governo aos meios de subsistência das pessoas e ao setor público, parece que até a educação básica se tornará um luxo para poucos no próximo período, embora já esteja fora do alcance da classe trabalhadora.

A situação deve ficar mais sombria devido à deterioração geral da condição socioeconômica e política do Paquistão. Há perspectivas de um quase colapso do setor de educação no Paquistão.

Isso mostra claramente que o movimento estudantil em formação no Paquistão está à beira de uma explosão. Esses protestos espontâneos em todo o país serão o novo normal nos próximos dias. Em um lugar, os estudantes podem explodir contra o aumento das taxas, em outro, contra o assédio sexual.

A Aliança Progressiva da Juventude está determinada em seu papel a ser desempenhado como uma organização revolucionária. Temos nos empenhado vigorosamente para organizar os estudantes, levantar cada vez mais nossa bandeira e aumentar nossas forças para que possamos levar o movimento estudantil à derrubada revolucionária de todo este sistema capitalista, sob a liderança da classe trabalhadora.

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