Trinidad: a Greve Geral de 1937

Neste ano, no dia 19 de junho, Trinidad celebrou os 50 anos do Dia do Trabalhador (comemorado pela primeira vez em 1973). As raízes dessa ocasião, contudo, podem ser rastreadas até 36 anos antes disso, até um dos eventos mais impressionantes da história trinitária – a greve geral de 1937.

[Source]

Nas décadas anteriores, a classe trabalhadora trinitária estava crescendo em número e militância. A indústria petrolífera em expansão inchou as fileiras do proletariado com aqueles que buscavam melhores pagamentos e condições do que as oferecidas nas plantações de açúcar e cacau.

As batalhas de classe na ilha deixaram um exemplo inspirador para a classe trabalhadora de todo o Caribe, levando a uma onda grevista em todas as ilhas na década de 1930.

As lições da greve geral devem ser absorvidas pela classe trabalhadora e por sua liderança frente à iminência de eventos tempestuosos na política mundial, os quais guardam alguma semelhança com a situação dos anos 30.

Em 1970, a então chamada Revolução Black Power poderia ter derrubado o governo e abolido o capitalismo. Contudo, a liderança revolucionária falhou em absorver completamente as lições de 1937, levando o movimento à derrota.

As condições para uma revolução socialista em Trinidad e em uma escala internacional nunca tinham sido tão favoráveis. Se não quisermos repetir os erros do passado, devemos fazer o balanço da história.

Açúcar, petróleo e sangue

Assim como o comércio de escravos pelo Atlântico transformara Trinidad em uma colônia açucareira, a abolição da escravatura a transformou ainda mais profundamente. Sob a servidão assalariada, os ‘cules’ indianos foram levados pelos britânicos até Trinidad a partir de 1845.

Lutando para substituir a força de trabalho outrora desempenhada por negros escravizados, e competindo com outras nações produtoras de açúcar, os donos das plantações usavam servos contratados da Índia, que recebiam salários extremamente baixos, com o objetivo de manter as plantações rentáveis.

Alguns ex-escravos negros especializados permaneceram nas fábricas de açúcar como carpinteiros, pedreiros, caldeireiros, e operadores de fábrica. Como resultado da migração para o país, entre 1851 e 1891, a população saltou de 68.600 para 200.028 pessoas.

Contudo, a indústria açucareira entrou em declínio em Trinidad na década de 1890, porém a expansão da indústria do cacau evitou uma depressão econômica mais severa. Em Tobago, a dominação da indústria açucareira terminou efetivamente na década de 1890 graças ao colapso da empresa britânica Gillespie & Co.

O petróleo foi descoberto em Trinidad por volta de 1857, e, em 1900, os principais campos de petróleo foram perfurados, tornando-se uma grande fonte de lucro. Isso aliviou o pior declínio econômico da indústria açucareira, porém as condições continuavam miseráveis para os trabalhadores e os camponeses.

Em 1897, uma comissão real foi enviada pela Grã-Bretanha para examinar a seriedade do colapso do açúcar e recomendar soluções para o problema.

As Revoltas da Água de 1903

Naquela época, Trinidad e Tobago era uma colônia da coroa, que era liderada por um Governador apontado pela monarquia britânica e por um órgão consultivo chamado de Conselho Legislativo. Mercadores e latifundiários peticionavam ao governo colonial por uma instituição eletiva desde o início do século XIX e, ao final do século, um grupo considerável de homens “mulatos” (miscigenados) e negros profissionalizados se juntaram à agitação por uma instituição eletiva de governança.

O boom da indústria do cacau e o começo de uma indústria petrolífera tinham levado, por um lado, ao crescimento da pequena burguesia e, por outro, a uma classe trabalhadora ainda mais numerosa.

Sem qualquer forma de expressão política democrática, um grupo de agitadores políticos da pequena burguesia e da classe trabalhadora fundou a Associação Trinitária de Trabalhadores (ATT) em 1897. Foi a primeira organização operária no caribe britânico, e isso pressionou a Comissão Real, que os visitava, por mudanças políticas e econômicas.

O presidente da ATT, Walter Mills, realizou uma petição por menores impostos, reforma agrária, e, ainda mais importante, por uma instituição eletiva. Essas demandas eram majoritariamente ignoradas pelas autoridades, fazendo com que a pressão das bases apenas aumentasse.

Em 1902, novas tarifas e hidrômetros propostos pelo governo para combater o desperdício de água foram a fagulha que acendeu o pavio. O governo acusava as pessoas de desperdício de água, o que era visto como um luxo no ambiente de clima quente. Enfurecidos pela acusação, os trabalhadores saíram às ruas e revidaram essas acusações contra os ricos.

Em 23 de março de 1903, uma reunião de oficiais do governo na Casa Vermelha (o principal edifício da administração governamental) foi cercada por milhares de manifestantes. A polícia, que protegia o local e os oficiais, enfrentou os manifestantes, levando a uma Revolta na qual a Casa Vermelha foi queimada, enquanto a polícia atirava e até mesmo esfaqueava os manifestantes com as suas baionetas. No total, 18 manifestantes foram mortos e 42 foram feridos.

Apenas pequenas concessões foram conquistadas após o massacre. Apesar de uma instituição eletiva ter sido introduzida, ela era apenas uma assembleia local, estabelecida dez anos após o fato, e com poderes extremamente limitados.

As fileiras do ATT cresceram durante os anos de 1910, e podiam contar com vários milhares de trabalhadores como membros. Ela também construiu ligações com o recém-fundado Partido Trabalhista Britânico. Por exemplo, o deputado trabalhista de Attercliffe em Sheffield, Joseph Pointer, de fato visitou Trinidad em 1912 para ajudar a construir a organização, assim como para propagandear uma campanha pela mudança da forma colonial de governo.

Nesse ponto, uma certa quantidade de indo-trinitários que Pointer encorajou a participar na luta se juntaram à campanha pela reforma. Contudo, a ATT estava apresentando sinais de divisão interna quanto à questão de qual seria a melhor maneira de conquistar as suas demandas.

Contrastando com a ala reformista estabelecida, uma ala radical impaciente liderada por J. Sydney de Bourg se desenvolveu. Em julho de 1914, a facção de de Bourg viu a sua oportunidade de tomar o controle da ATT. Eles foram bem-sucedidos em expulsar os reformistas, com a ajuda da militância da Associação, cansada de uma agitação “respeitosa”.

Contudo, o início da Primeira Guerra Mundial rompeu o clima revolucionário em ascensão na ilha, e a possibilidade de uma reforma constitucional foi temporariamente deixada de lado.

Onda grevista de 1919

Durante a Guerra, pequenas greves continuaram ocorrendo na ilha. Por exemplo, os trabalhadores do ramo petrolífero e de empresas de fabricação de asfalto em Fyzabad e Point Fortin saíram em greve após seu pedido por um aumento de salário ser recusado. Eles decidiram por uma paralisação de 5 dias em fevereiro de 1917.

Durante o mesmo mês, os galpões da Companhia de Asfalto Lake Trinidad foram incendiados. Soldados foram enviados para acabar com as greves e cinco dos líderes grevistas foram presos, com três deles sendo condenados a realizarem trabalhos forçados.

Alguns soldados negros da colônia foram usados contra os grevistas. Eles eram membros do contingente de Trinidad para o Regimento das Índias Ocidentais Britânicas, que ainda não haviam sido enviadas ao front na Europa.

Contudo, os soldados negros que haviam lutado na Europa voltaram radicalizados pela sua experiência na guerra imperialista, assim como peladiscriminação racial que eles sofreram em seu retorno. Como resultado do desmembramento do comércio mundial causado pela guerra, a inflação alcançou uma taxa impressionante de 145% em 1919, apenas adicionando mais combustível ao fogo.

Dessa forma, um grande número de ex-militares militantes se juntou à ATT conforme as greves continuavam a explodir no final da guerra. A ATT, sob nova liderança, eventualmente saiu em defesa da crescente onda grevista em resposta à supressão governamental a uma greve de ferroviários e de trabalhadores das docas durante o março de 1919.

Os operários das docas exigiam aumento de salários, pagamento de horas-extras, e jornada de trabalho de oito horas. No dia primeiro de dezembro, eles seguiram o exemplo dos seus companheiros da orla e conquistaram um aumento salarial de 25%. A vitória levou a onda grevista a se espalhar das docas do Porto da Espanha para todo o país, incluindo trabalhadores rurais das plantações de açúcar.

A ilha inteira, incluindo Tobago, estava efetivamente em greve. Como resposta, tropas britânicas foram enviadas, e o governo aprovou leis contra sedição, greves e protestos, com o objetivo de minar os esforços da ATT e acabar com o movimento dos trabalhadores.

De forma implacável, e tendo experimentado a vitória no front industrial, a agitação por demandas políticas e reformas sociais escalou, e uma série de concessões foi garantida.

Por exemplo, o Conselho Legislativo foi expandido para incluir seis funcionários nomeados pelo Governador, sete funcionários eleitos, 12 oficiais e o próprio Governador. Portanto, os membros eleitos estavam em minoria. O direito de voto também foi estendido para mulheres com mais de 30 e homens com mais de 21 anos, conquanto atendessem a pré-requisitos específicos (ou ainda “mínimos”) de renda e de posses.

A ATT apontou para essas concessões como uma vitória decisiva, e encorajou os trabalhadores grevistas a retornarem ao trabalho e a usarem essa oportunidade para alcançar seus objetivos através de meios constitucionais.

Como demonstrado de tempos em tempos pela história, o movimento pela libertação nacional e social não pode ser confiado à burguesia nacional, mas só pode vir de um movimento de massas da classe trabalhadora e do campesinato sob uma liderança socialista revolucionária.

Cipriani e a ATT

Em 1923, Arthur Cipriani tornou-se o líder da ATT. Cipriani era um ex-capitão militar de ascendência corsa, que recrutou soldados em Trinidad para lutar na Primeira Guerra Mundial. Ao retornar da guerra, ele falou sobre “o desprezo, a humilhação, os insultos e o sofrimento imposto aos homens das Índias Ocidentais Britânicas” em uma entrevista.

Ele se jogou de cabeça na missão de recrutar ex-militares para a ATT, e rapidamente conquistou o respeito das bases como um lutador fervoroso de sua causa.

Nas primeiras eleições para o Conselho Legislativo em 1925, a ATT conquistou 3 dos 7 assentos disponíveis. E, em 1928, eles ganharam 4 dos 7 assentos. Cipriani, como um membro eleito do Conselho, agitava por melhores pagamentos e condições aos trabalhadores. Entretanto, ele caiu em muitos erros, como assinar uma legislação que colocava como salário mínimo um valor menor do que o dos salários existentes.

Ele limitou a ATT e o movimento operário a buscar reformas constitucionais. Infelizmente, ele era um reformista politicamente, e sob a sua liderança, ele disseminou ilusões na saída constitucional para mudanças, o que levou a um esfriamento do movimento durante os anos 20.

Porém, novos líderes sindicais emergiram durante os anos 30, sendo Tubal Uriah ‘Buzz’ Butler e Adrien Cola Renzi os mais notáveis dentre eles.

Butler combateu na Primeira Guerra Mundial e participou do movimento operário granadino antes de se mudar para Trinidad em 1921 para trabalhar nos campos de petróleo. Ele representava a ala mais militante da classe trabalhadora, exigindo abertamente o fim do sistema colonial da coroa e da exploração da classe trabalhadora.

Rienzi (nascido Krishna Deonarine) era um advogado trinitário de ascendência indiana que havia estudado na Inglaterra e na Irlanda. Ele trabalhou, em Londres, junto de Shapurji Saklatvala, deputado do Partido Comunista da Grã-Bretanha de Battersea, antes de retornar para Trinidad em 1934.

Cipriani, Butler e Rienzi representavam os brancos e os mulatos, os negros e as massas indianas, respectivamente. Contudo, vitalmente, juntos eles poderiam guiar as massas como um todo em uma base classista.

Grande Depressão

Os anos 20 presenciaram o imperialismo norte-americano garantindo grandes lucros através da indústria petrolífera. Entretanto, a Crise de 1929 e a Grande Depressão interromperam de forma massiva o comércio e os mercados mundiais. Como um grande exportador de açúcar e petróleo, Trinidad não estava imune à crise econômica, e o desemprego começou a crescer.

Os trabalhadores entraram novamente em movimento, em resposta aos ataques feitos pelos empregadores contra os salários e as condições de trabalho.

Em julho de 1930, 2.000 trabalhadores armados marcharam até o Porto da Espanha e exigiram que os latifundiários e o governo retirassem os cortes salariais e abolissem o aumento da jornada de trabalho. Os manifestantes armados se recusaram a voltar ao trabalho até que as suas demandas fossem atendidas, e isso inspirou levantes subsequentes em outras plantações.

As plantações contratavam trabalho infantil por 5 a 7 pences ao dia, para evitar pagar pelo trabalho adulto, cujo custo ficava entre 18 e 24 pences.Em 1931, o marxista trinitário, George Padmore, descreveu em ‘Imperialismo nas Índias Ocidentais’ as condições que os trabalhadores enfrentavam nas plantações e nas docas:

“(…) Há uma grande indústria petrolífera e de asfalto, e um proletariado industrial passou a existir nos anos recentes. Milhares de negros são empregados para escavar os campos (para produção de asfalto) e para carregar os navios em La Brea, recebendo em média 50 cents por dia e vivendo sob condições terríveis.”

Ele foi adiante para apresentar a seguinte solução:

“Os operários e os camponeses nas Índias Ocidentais devem construir um movimento sindical realmente revolucionário. Por exemplo, em Trinidad, onde o movimento trabalhista atingiu seu estágio mais avançado, a oposição de esquerda aos líderes reformistas (Cipriani e Bishop, que controlavam naquele momento a ATT) deve iniciar imediatamente uma ampla campanha entre as bases de vários sindicatos, assim como entre os não organizados, apoiada em demandas concretas do dia a dia, as quais devem estar conectadas às demandas máximas do interesse de classe, para conquistar as massas, afastando-as dos reformistas e desenvolvendo o movimento de esquerda. Comitês pela base devem ser formados por dentro e por fora dos sindicatos.”

Em outras palavras, a classe trabalhadora e a sua liderança deveriam iniciar a formação de uma tendência revolucionária organizada. Isso representaria um grande passo adiante.

O regime colonial ficava cada vez mais nervoso com essa situação explosiva vindo à tona, e se esforçou para suprimir a dissidência. Por exemplo, o jornal O Trabalhador Negro, publicado pela Comintern stalinista, foi banido em abril de 1932.

O Trabalhador Negro publicou uma carta de um trinitário que dizia: “Essas demonstrações estão abalando a ilha até as suas fundações”, adicionando, “O que queremos é uma organização boa e revolucionária aqui, para educar as massas sob linhas bem definidas e científicas”.

A ATT tinha milhares de membros, e entre 1933 e 1934 grandes demonstrações e protestos foram realizados pelos desempregados e pelos trabalhadores. A ascensão da luta de classes deu à ATT um novo suspiro, e nas palavras do historiador marxista trinitário CLR James:

“Se existe algo que possa provar a aptidão da população de Trinidad ao auto-governo, é o progresso dessa Associação ressuscitada.”

O governo introduziu uma legislação repressiva para pacificar o movimento ascendente. Sob ataque, a necessidade do movimento de ligar as lutas econômicas com as políticas se tornou uma questão cada vez mais urgente.

Em 1934, a ATT votou pela mudança de seu nome, e formou o Partido Trabalhista de Trinidad (PTT), se tornando o primeiro partido político do país. Esse foi um grande passo adiante para a classe trabalhadora, apesar de ainda ter seu direito ao voto negado.

O reformista Cipriani permaneceu na liderança e continuou a buscar por um programa de tímidas reformas constitucionais. Escandalosamente, a liderança do PTT não apoiou publicamente as greves, para a frustração de Butler. Ele foi eventualmente expulso, e um grupo que rompeu com o PTT fundou o Partido de Butler, ao qual Rienzi também se juntou.

Butler liderou uma marcha contra a fome em 1935, porém as greves continuavam a diminuir em 1936. Relembrando de 1936, Butler afirmou: “As condições dos indianos e negros pobres, e do açúcar e do petróleo, respectivamente, não era nada menos do que sub-humana”.

A Greve Geral

Por volta de 1937, o crescimento do custo de vida e o estado de baixa da agricultura se tornaram insustentáveis para as massas. Algo deveria ser feito. Por meses, Butler esteve agitando por uma ação grevista massiva entre os petroleiros.

Em 18 de junho, antecipando a greve, o governo ordenou o envio da polícia e de voluntários para o sul de Trinidad. A polícia tentou prender Butler em Fyzabad, enquanto ele estava a caminho de uma reunião com trabalhadores, com a ajuda dos quais ele conseguiu escapar. Na confusão que se seguiu, um soldado policial foi morto, e um oficial de polícia foi queimado vivo pelos trabalhadores.

No dia seguinte, em 19 de junho, os petroleiros, inspirados pelos “protestos sentados” de dezenas de milhares de trabalhadores nas fábricas automotivas dos EUA, declararam uma greve permanente, exigindo maiores salários, reconhecimento sindical, e licença remunerada.

Ou, ao menos, é essa a história que alguns contam. Outra versão conta que uma estação de petróleo perto da Reserva Florestal teria sofrido uma queda da eletricidade às 2 da manhã, interrompendo o serviço. Os trabalhadores teriam se assentado para descansar, esperando para retornar ao trabalho. Um grupo de operários a caminho de lá, cientes da agitação de Butler por uma greve, teria assumido que ela já havia se iniciado e espalhado as notícias sobre uma greve sentada na estação petrolífera.

Logo após ouvir as notícias, os trabalhadores entraram em greve imediatamente, e a polícia foi enviada para esmagá-la. Às 7 da manhã, trabalhadores da maioria dos postos de petróleo adjacentes saíram em greve, sob a impressão de que Butler a havia convocado. Independente de qual tenha sido o real desenvolvimento dos fatos, ao ouvir que uma greve se espalhava, Butler se dirigiu ao local e, às duas horas da tarde, encontrou-se com uma entusiasmada multidão de trabalhadores.

Mais policiais foram enviados para acabar com a greve, e outra tentativa de prender Butler foi feita. No entanto, a multidão não permitiu a sua prisão, e um policial à paisana foi espancado pela multidão antes que derramassem petróleo sobre ele e o queimassem vivo.

Aqui nós vemos a necessidade se expressando através do acidente. A pressão imensa sob a classe trabalhadora havia ficado grande demais, e uma explosão de ódio de classe se espalhou.

Cipriani estava fora do país, tendo sido convidado para a coroação do Rei George VI. Em sua ausência, Butler, após o movimento espontâneo inicial do operariado, convocou uma greve de todos os petroleiros, e em dois dias uma greve havia consumido os campos de petróleo e se espalhado como um incêndio.

Nas palavras de Padmore:

“Milhares de trabalhadores agrícolas das grandes plantações de açúcar das Índias Orientais se recusaram a trabalhar. O transporte motor teve que parar em muitas partes do país devido à falta de combustível; os navios que chegavam ao porto do Porto da Espanha não conseguiam descarregar as suas cargas. Toda a vida econômica do país estava paralisada.”

A greve geral estava em pleno andamento, e estava se espalhando rapidamente do sul ao norte.
O Governador, Sir Murchison Fletcher, que anteriormente havia criticado publicamente as condições análogas à escravidão na ilha, rapidamente mudou o seu tom. Ele imediatamente impôs censura à imprensa e a proibiu de discutir as greves e as táticas usadas pelo governo para derrotá-las.

Sir Fletcher enviou a polícia, marinheiros e voluntários em busca de Butler e de outros líderes grevistas, o que envolvia rondar vilas inteiras e fazer revistas de casa em casa.

No dia 21 de junho, várias centenas de trabalhadores apedrejaram a polícia em Point Fortin, próximo a Fyzabad, e, no dia seguinte, bloquearam as estradas dentro e fora da zona de greve. Eles tentaram entrar na refinaria para tomar o controle. Três trabalhadores foram mortos e quatro foram feridos pelos tiros da polícia.

Em São Fernando, os trabalhadores fecharam as lojas, tomaram controle da estação de eletricidade, e tentaram tomar o controle da central telefônica, onde dois foram mortos e oito foram feridos.

Os operários canavieiros da Usina de Saint Madeleine tomaram o controle da fábrica, dos trens, do fornecimento de água e da eletricidade. No dia seguinte, trabalhadores do Porto da Espanha largaram as suas ferramentas e as lojas também foram fechadas.

Um estado de emergência foi declarado, e dois navios de guerra britânicos foram enviados para a ilha através de Bermuda, chegando nos dias 22 e 23 de junho.

Butler se manteve fora do alcance das autoridades, mas se colocou ao alcance dos trabalhadores, para que ele pudesse tentar guiar a greve.

Ao mesmo tempo, Rienzi pediu ao governo um salvo-conduto para Butler. A posição do Governador Fletcher era de que, até que a greve fosse finalizada, não seriam realizadas reuniões com Butler. Rienzi prometeu que iria pressionar Butler para que ele acabasse com a greve.

Porém, nem Rienzi e nem Butler estavam em condições de acabar com a greve naquele ponto. Os trabalhadores estavam preparados para manter o combate nesse último momento para assegurar um aumento em seus salários antes de voltarem ao trabalho.

Em uma traição vergonhosa, Cipriani e o PTT declararam seu apoio ao governo, e, assim como em 1919, conclamaram os trabalhadores grevistas a usar de meios constitucionais para alcançarem os seus objetivos. Sob o sistema colonial da coroa, é claro, quase 90% da população estava impedida de utilizar tais meios.

O governo segurou firme o seu poder e, apesar de uma mobilização nacional dos trabalhadores, a greve começou a se enfraquecer diante do assédio das autoridades, e foi eventualmente encerrada após 14 dias.

O movimento em um impasse

A greve revidou os assédios por parte dos patrões naquele momento, porém, ainda mais importante, a greve geral encheu os trabalhadores de confiança. Para os milhares que participaram da greve geral, havia sido a primeira vez em que eles haviam tomado o controle de suas próprias vidas. A evolução da consciência de classe não poderia ser facilmente revertida.

Um relatório foi produzido pela Comissão de Trinidad, que apontava para Butler como um “negro fanático”, e criticava a polícia por não ter atirado contra manifestantes desarmados, mesmo quando ela havia, sim, atirado. Ele também recomendava que os sindicatos fossem colocados sob controle governamental.

Contudo, essas restrições contra os sindicatos não eram passíveis de ser impostas, pois elas provocariam um novo combate com uma nova classe trabalhadora, confiante e militante.

A classe dominante mirou em Butler, que foi preso e julgado por sedição. Durante o seu julgamento, ele usou a plataforma para expor o regime colonial e questionou a autoridade do Governo Colonial da Coroa.

Ele foi sentenciado a dois anos de prisão em setembro de 1937 e foi até mesmo preso novamente quando a Segunda Guerra foi declarada, sendo finalmente libertado em 1945.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial impactou a luta de classes em Trinidad, e foi uma desculpa conveniente para as autoridades britânicas atrasarem a publicação das conclusões do Relatório Econômico.

O governo britânico reuniu uma comissão para acobertar os motivos do amplo levante que se espalhou por todas as Índias Britânicas Ocidentais ter ocorrido. Em 1944, ela publicou o Relatório Econômico, no qual ela recomendava uma série de reformas.

Para Trinidad, a reforma mais significativa foi a introdução do sufrágio universal. Entretanto, a classe dominante está sempre buscando por maneiras de manter a classe trabalhadora dividida. Dessa forma, a introdução do sufrágio universal incluía uma cláusula que dizia que ela seria válida somente para os ‘nativos’ ou para os falantes de inglês, significando que muitos indo-trinitários que falavam hindi não teriam o direito ao voto.

O Conselho Sindical de Trinidad e o Partido Nacional das Índias Ocidentais peticionaram fortemente contra essa discriminação, apontando que os indo-trinitários deveriam usufruir de direitos iguais de cidadania, assim como os afro-trinitários. No final das contas, essa cláusula foi derrubada.

Cipriani faleceu em 1945, um ano antes da primeira eleição geral sob o sufrágio universal. Sua morte levou ao fim de um capitulo na luta de classes de Trinidad e o início do boom do pós-guerra.

O nível da consciência de classe das massas trinitárias permaneceu alto após a greve geral e durante a Segunda Guerra. Nas eleições gerais de 1946, uma miríade de partidos de esquerda lançaram candidatos.

Mais notavelmente, o programa da Frente Única consistia em três princípios, incluindo o ‘auto-governo’, a nacionalização das indústrias de base e educação popular universal. Com esse programa audacioso de esquerda, eles conquistaram 3 dos 9 assentos, com 37% dos votos. O Partido de Butler conquistou 3 assentos com 28% dos votos. O Congresso Sindical e o Partido Socialista conseguiram 2 assentos, com 22% dos votos.

O PTT, órfão de seu líder e tendo se desacreditado perante a classe trabalhadora, falhou em conseguir um assento, obtendo apenas 1% dos votos.

A necessidade de uma direção revolucionária

Nos anos 50, o movimento operário caiu sob a direção da burguesia nacional ‘progressista’, como o Dr. Eric Williams, cujos objetivos se limitavam a alcançar a independência formal do imperialismo britânico. Uma vez que isso foi atingido em 1962, os limites desse ‘progressismo’ foram evidenciados, e, em 1970, a classe trabalhadora mais uma vez tomou as ruas contra o imperialismo e o capitalismo na Revolução Black Power.

Apesar da liderança ousada de figuras como o sindicalista militante George Weekes, a revolução falhou em tomar o poder da classe capitalista, em última instância, graças à ausência de uma organização revolucionária ou de uma liderança capaz de guiar as massas revolucionárias para a vitória.

A classe trabalhadora está mais uma vez em movimento, tanto em Trinidad como por todo o mundo. A inflação, o aumento acentuado do custo de vida, e a estagnação dos salários na última década levaram milhares de trabalhadores a tomar o caminho da greve. Apenas no último ano, motoristas de ônibus, petroleiros, professores e muitos outros funcionários do setor público saíram em greve.

A verdade é que o capitalismo não pode mais oferecer reformas, e ele está em uma crise profunda em cada país. Diante dos eventos convulsivos iminentes, a tarefa dos revolucionários é construir as forças do marxismo e a liderança revolucionária necessária para derrubar o capitalismo de uma vez por todas.

Das Revoltas da Água até a Revolução Black Power, uma liderança revolucionária e um partido moldado nas ideias do marxismo foram o fator ausente que impediu a conquista da vitória. A história nos mostrou isso de novo e de novo. A vitória da classe trabalhadora só pode ser garantida se as lições da história forem compreendidas corretamente por uma nova geração de revolucionários.